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Cinema Latino

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Perfil Fabrício Boliveira, o nosso Santo Cristo


Por Raquel Valadares.

“E se lembrou de quando era uma criança
E de tudo o que vivera até ali
E decidiu entrar de vez naquela dança
“Se a via-crucis virou circo, estou aqui”

Fabrício Boliveira, o nosso João de Santo Cristo, entrou no filme disposto a construir uma memória para sua personagem e, a partir de suas lembranças - “porque nós somos o que vivemos” - agir e pensar como João.

Desde a preparação no Rio de Janeiro, até o laboratório em Brasília, ambos orientados pelo preparador de elenco Sergio Penna, Fabrício, um ator formado pela clássica faculdade de Artes Cênicas da Universidade Federal da Bahia, deixou-se guiar pelo instinto e pela sincronicidade, absorvendo tudo o que pudesse remeter a Santo Cristo e a Brasília, a cidade-tema de “Faroeste Caboclo”.“O João é um desses nordestinos que foram construir Brasília, que tiveram de se adaptar a uma outra vida, a um outro clima, a uma outra geografia e se deixaram influenciar. Mas João não esquece sua história, não a apaga para o futuro. Por isso foi tão importante transitar na feira dos nordestinos, encontrar uma familiaridade nos objetos. Dialoguei muito com o diretor de arte, Tiago Marques Teixeira, a respeito do que João traria consigo em sua bolsa. Então escolhemos juntos a bolsa, eu pedi um canivete, um fumo de rolo, uma palhinha, um santinho… Essa troca com a equipe, ver o que o outro pensou para sua personagem é fascinante, enriquece muito o trabalho do ator. Quando vesti o figurino pela primeira vez foi como se caísse uma ficha, ‘ah… É isso que faltava, é por este caminho que eu vou”.

“João de Santo Cristo não faz parte do Plano-Piloto”. A história narrada na canção de Renato Russo fala, segundo a visão do ator, da intolerância ao diferente, ao “candango” pobre e marginalizado na cidade-ilha da fantasia.

As tentativas frustradas de ser dono de sua própria história, de começar o ano-novo como um rapaz trabalhador, constituir família, parecem anunciar o desfecho trágico. E de fato é numa tragédia grega que Fabrício se pautou para interpretar “Faroeste Caboclo”.

“Na canção, esse senhor de alta classe com dinheiro na mão que um dia bate à porta com uma proposta indecorosa ele diz ‘Você perdeu sua vida meu irmão’… Para mim esse senhor é o oráculo e João, que não consegue tirar essas palavras do coração, luta para fugir do próprio destino. Então que personagem é esse que já tem a vida escrita e ainda assim tenta escrever a sua história?”aroeste Caboclo” é a quarta experiência de Fabrício no cinema. O ator, que estreou em “A Máquina” de João Falcão e participou de “Tropa de Elite 2, diz que a cada filme ele “zera” tudo, para embarcar na história de sua personagem, mas que a cada nova cena ele se percebe mais sintonizado com o funcionamento de um set de filmagem, com o trabalho da equipe e com o próprio aparato cinematográfico.


“Eu sinto a luz no meu olho, eu percebo onde está a câmera e jogo com ela. É muito legal descobrir o olho que está por trás da câmera, que é a extensão do pensamento e do olhar de uma pessoa, no caso de “Faroeste Caboclo”, do [Gustavo] Hadba, o diretor de fotografia. Ou então me deixar dirigir pelo René [Sampaio], entender o que ele quer e poder trocar, conversar sobre o caminho da personagem. Porque a gente faz uma cena e sai pensando como é que a cena cola lá na frente e se não tiver o diretor ali, para dividir isso com você, o trabalho fica muito solitário”.



Fabrício jamais ficou solitário em “Faroeste Caboclo”. Simplesmente toda a equipe vinha ampará-lo, paparicá-lo. Na festa de despedida das filmagens ele era a pessoa mais afagada e cumprimentada. Para nós ele era o nosso Batman, a grande estrela. Afinal ele foi João de Santo Cristo de “Faroeste Caboclo”, o protagonista de uma saga.

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